Gaviões da Fiel, 48 anos

Num primeiro dia de julho como hoje, em meio a uma ditadura militar que acabara de se radicalizar com a promulgação do AI-5, era fundado o Grêmio Gaviões da Fiel Torcida – Força Independente, a maior expressão da história das arquibancadas corintianas.

Não deixemos cair no passado. Aquelas almas inquietas que criaram o que viria a ser a maior torcida organizada do Brasil eram almas revolucionárias. Em tempos de tanta capitulação e perda de identidade, inclusive incentivada pelos “gestores”, nunca será demais lembrar dessas e outras raízes.

Flavio La Selva, Joca, Chico Malfitani, Raul Correa, Vila Maria, dentre outros, eram corações revolucionários, que enxergaram na paixão de suas juventudes um importante motivo para o engajamento político.

Eram 15 anos de fila sem títulos no futebol e uma década sob o domínio de Wadih Helu, triste página da história do clube e da própria cidade, dominada por colaboradores da ditadura em quase todas as suas facetas de relevância social.

Sua gestão e mandonismo começariam a sofrer golpes de morte a partir das reuniões e mobilizações iniciadas por estes jovens. Isso culminou na histórica campanha de Vicente Matheus, que acabaria presidente do clube em três ocasiões diferentes, com todas as suas idiossincrasias, mas acima de tudo numa relação de generosidade com o clube.

O movimento logo se alastrou, milhares aderiram à torcida e grandes capítulos da história do corintianismo foram registrados, como a invasão ao Maracanã em 1976 (entrevista de Joca abaixo) e tantas outras caravanas e carnavais sobre o concreto.

Lindas e inesquecíveis festas também fizeram parte da vida de milhões de corintianos que ao menos uma vez tenham tido a chance de compartilhar uma tarde de domingo com esse fantástico bloco negro que marcava o ritmo dos nossos corações com seus instrumentos e repertório.

A queda do tirano do Parque São Jorge esteve muito longe de ser a única demonstração de consciência política e ideológica dos nossos gaviões. Outras manifestações e provocações contra os militares ocorreriam, até o fim do regime de exceção.

Muitos e muitos encontraram ali, naquela unidade em torno de uma entidade esportiva e social, a oportunidade de expandirem horizontes e adquirirem consciência, inclusive da própria força.

Todos nós, associados ou não da torcida, crescemos cantando que “somos os gaviões”, nas quadrinhas da escola, na rua com os amigos do bairro e, claro, nas arquibancadas que marcaram a nossa existência.

Como se vê no manifesto da temporada (!) de 1969 que publicamos junto a este texto, a questão da fidelidade incondicional nunca foi uma brincadeira para falastrões contarem vantagem. Tratava-se de compromisso inabalável, expressado mesmo diante das maiores decepções, como foi a perda do campeonato brasileiro de então, na última rodada do quadrangular final do Torneio Roberto Gomes Pedrosa.

Os Gaviões adquiriram tamanha importância no imaginário corintiano que passaram a ser referência em todas as vezes que as coisas andavam mal, fosse dentro ou fora de campo.

Sendo impossível não extrapolar sua atuação, logo seu imbatível bloco de carnaval foi praticamente obrigado a se tornar escola de samba de primeira linha. Ações sociais e solidárias também são parte corriqueira do cotidiano dessa família que defende o Coringão.

Em tempos de cinza, sempre será importante ressaltar todas essas condições que marcaram a trajetória da torcida do Corinthians, quase sempre pautada nestes últimos 48 anos pelo que fervilha ali naquela quadra do Bom Retiro.

Somos gratos por tantos momentos inesquecíveis que essa torcida nos propiciou na vida. Obrigado e parabéns.

Entrevista de Joca no Maracanã em 1976

Manifesto de 1969

Manifesto Gaviões 1969.jpg

Alguns históricos gaviões

 

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